Introdução
O objetivo deste documento é fornecer uma visão geral sobre o Macrochlamys indica (Benson), popularmente conhecido como caracol indiano, bem como recomendações para otimizar sua detecção e monitoramento em viveiros de mudas. Esse informativo é voltado para o público leigo, acadêmicos que tenham conhecimento sobre biologia e todos aqueles que desejam obter informações sobre o caracol indiano.
O caracol indiano foi detectado em agosto de 2020 no Condado de Miami-Dade (Talamas 2020). Este caracol está atualmente sob regime quarentenário nos Estados Unidos, devido ao seu potencial para se tornar uma praga agrícola e hospedar nematóides parasitas de importância médica (Grewal et al. 2003; Cowie et al. 2009; Jayashankar e Murthy 2015). Um programa para pesquisar, controlar e erradicar o caracol indiano foi implementado pelo Departamento de Agricultura e Serviços ao Consumidor da Flórida, Divisão da Indústria de Plantas (FDACS-DPI). No entanto, o programa de erradicação foi suspenso no final de 2021.
O caracol indiano pertence ao gênero Macrochlamys (família Ariophantidae), que possui centenas de espécies descritas e distribuídas do sul ao sudeste da Ásia e sul da China (Pholyotha et al. 2018). Ocorre na Índia, Sri Lanka, Bangladesh, Nepal, Paquistão e Brasil (Figura 1) (Raut e Ghose 1984; Biswas et al. 2015; Jayashankar et al. 2015; Agudo-Padron 2018). Jayasshankar et al. (2015) relatam a ocorrência deste caracol na Europa; no entanto, o local não foi especificado e não conseguimos encontrar informações adicionais para fundamentar este relato. Em Bangalore, na Índia, é conhecido como o caracol de jardim, e as populações são maiores em ambientes urbanos do que em áreas agrícolas (Jayashankar et al. 2015).
Identificação
O caracol indiano tem corpo marrom e concha de coloração âmbar (Figura 2). Na ponta de sua cauda, M. indica possui um chifre caudal, do qual recebeu seu nome comum em inglês “horntail snail” (Talamas 2020). O tamanho dos caracóis adultos varia de acordo com a idade, e o diâmetro da concha pode variar de 10 a 21 mm (Raut e Ghose 1984) (Tabela 1). Uma característica desta espécie de caracol é que ele tem uma estrutura que se estende em para trás ou ao redor da concha (para fotos, ver Talamas 2020). Na Flórida, o caracol saltador (Ovachlamys fulgens (Gude)) possui características semelhantes, como o “chifre caudal” e coloração semelhante do corpo e da concha. No entanto, este último tem um corpo mais fino e alongado, e seu “chifre caudal” é muito maior e mais grosso (para descrição e fotos, ver Salles et al. 2018).
Alcance de hospedeiros e danos
Existem poucas informações sobre o papel desse caracol como praga e vetor de doenças em seu ambiente nativo. Ele se alimenta principalmente de mudas de plantas e de folhas caídas e em decomposição (Raut e Ghose 1983, 1984; Jayashankar et al. 2015). É considerada uma praga secundária em algumas localidades da Índia, onde se alimenta quase exclusivamente de musgo que cresce em paredes de tijolos úmidos (Jayashankar et al. 2015). O caracol indiano, no entanto, pode se alimentar de várias plantas, incluindo vegetais, frutas e plantas ornamentais. Em estudos conduzidos em gaiolas, os vegetais preferidos desses animais são as cucurbitáceas, feijão, alface, quiabo e repolho, enquanto o mamão tem sido relatada como a fruta preferida. Plantas ornamentais como crisântemo, hibisco rosa, calêndula e rosas também já foram relatadas como plantas hospedeiras destes caracóis (Raut e Ghose 1983, 1984). Em geral, os caracóis mais jovens se alimentam de tecidos macio da planta e evitam os pecíolos e nervuras das folhas, enquanto os adultos consomem todas as partes da planta (Raut e Ghose 1983).
Biologia
A biologia dos caracóis indianos foi estudada em condições de laboratório e de campo em Bangalore, na Índia. A umidade relativa (UR) foi considerada o fator mais importante na dinâmica populacional desta espécie de caracol (Raut e Ghose 1979, 1984). Quando a umidade do ambiente está abaixo de 46%, o caracol entra em um estado latente chamado de estivação. A estivação varia com a latitude e pode variar de dois a oito meses. Durante este período, os caracóis permanecem escondidos e inativos o que acarreta em perda de peso (Raut e Ghose 1979, 1984). No sul da Índia, o caracol indiano tem um período de estivação de oito meses e permanece ativo durante a estação chuvosa. Um único indivíduo pode viver até quatro anos. Os caracóis jovens atingem a maturidade sexual em aproximadamente 130 dias. As condições ideais de acasalamento consistem em temperaturas que variam de 21°C a 30°C (69,8°F a 86°F) e umidade superior a 86%. O acasalamento geralmente ocorre após as chuvas, e o período de gestação varia de 10 a 17 dias.
Na Índia, a postura de ovos começa quando os caracóis atingem o segundo ano de vida (Tabela 1). Os ovos são colocados em jangadas (massa de ovos) e sob o solo. Caracóis adultos realizam a postura em aproximadamente 10 a 24 minutos e, em média, permanecem por 11 minutos no ninho (Raut e Ghose 1984). Os ovos são redondos, translúcidos e medem 3,0 a 3,5 mm (0,12 a 0,14 pol.). O número de ovos e as massas de ovos variam com a idade da fêmea (ver Tabela 1). A oviposição ocorre em intervalos de 12 a 49 dias, e o período de incubação dos ovos varia de oito a doze dias. Após a eclosão dos ovos, os caracóis jovens permanecem imóveis por 14 a 20 horas e começam a se alimentar no quarto ou quinto dia após a eclosão (Raut e Ghose 1984). O caramujo, no entanto, pode não ter os mesmos hábitos alimentares e reprodutivos em novas áreas invasoras.
Em condições de laboratório com temperatura entre 21°C e 32°C (69.8°F-89.6°F) e UR de 90%, a vida útil do caracol indicano varia de 15 a 19 meses, e não ocorre estivação. Os caracóis ovipositam até cinco massas de ovos por ano, com uma média de 16 ovos por massa de ovos. Nestas condições, os caracóis jovens atingem a maturidade sexual em dez meses (Sudhakar 2013).
Dispersão e Meio Ambiente
Assim como outros caracóis terrestres, o caracol indiano tem baixa dispersão natural de longa distância. Esta baixa mobilidade de longa distância dos caracóis terrestres oferece, portanto, a oportunidade de erradicar as populações locais (Roda et al. 2016). O transporte humano de plantas e materiais do ambiente é considerado o principal mecanismo para a introdução desses caracóis em novos locais (Bergey et al. 2014). Assim como na maioria dos caracóis terrestres, a dispersão ativa ocorre à noite e em dias nublados e chuvosos (Bailey 1981).
A umidade relativa do ar é o fator mais crítico que afeta a biologia e o comportamento do caracol indiano. Temperaturas entre 28°C e 31°C (82.4°F–87.8°F), mínimo de 19°C (66.2°F), e UR entre 85 e 100% são as condições ambientais ideais para o desenvolvimento desta espécie. O caracol indiano pode permanecer ativo em temperaturas entre 9°C e 43°C (48.2°F–109.4°F), desde que a umidade relativa esteja acima de 60% (Raut e Ghose 1984).
Associação com Patógenos Humanos
Pouco se sabe sobre a associação entre o caracol indiano e nematoides patogênicos. Até onde se sabe, um único estudo relatou uma associação não parasitária entre o caracol indiano com o nematoide Rhabditis sp. na Bengala Ocidental, Índia (Cowie et al. 2009; Jayashankar e Murthy 2015). No entanto, espécies intimamente relacionadas de M. indica, como Macrochlamys resplendens e Achatina fulica (caramujo gigante africano), são hospedeiros dos nematóides Angiostrongylus, conhecidos por causarem meningite eosinofílica em humanos (Grewal et al. 2003). Portanto, a possibilidade de que o caracol indiano possa ser um hospedeiro de nematoides de importância médica não deve ser descartada e deve ser investigada.
Recomendações para otimizar a detecção e monitoramento de populações de caracóis indianos
A detecção e o monitoramento desses caracóis em campo são etapas cruciais para realizar o seu controle ou erradicação. As recomendações para otimizar a detecção das populações de caracóis indianos incluem:
- Procure caracóis à noite, que é quando eles estão ativos, especialmente após as chuvas. Lembre-se que por existirem outros caracóis presentes em nosso ambiente, a identificação correta é de fundamental importância para um programa de manejo bem-sucedido. O FDACS-DPI pode ajudar na identificação de caracóis.
- Durante o dia, procure trilhas de caracóis, conchas e danos nas plantas.
- Procure caracóis em pilhas de detritos, tijolos, fendas de paredes e perto de mudas de plantas ou plantas suculentas.
- Procure caracóis em áreas úmidas, e perto de unidades de ar condicionado, sistemas de irrigação por bomba e sob cobertura morta.
- Oriente os funcionários que trabalham na produção de plantas ornamentais, vegetais e frutíferas tropicais sobre quando e como monitorar as populações de caracóis.
Além disso, as seguintes medidas podem ser tomadas para reduzir as populações de caracóis:
- Melhorar o saneamento e remover esconderijos como tábuas, pedras, entulhos, ervas daninhas, galhos, plantas e demais coberturas densas do solo, cobertura morta por toda a área úmida.
- Se possível, crie um ambiente menos úmido ajustando a frequência e a intensidade da irrigação, consertando prontamente os vazamentos e melhorando a drenagem no local.
Se você encontrar o caracol indiano em sua propriedade, entre em contato com o agente de extensão local da UF/IFAS (consulte https://sfyl.ifas.ufl.edu/find-your-local-office/) e o FDACS-DPI. Para obter mais informações sobre DPI, acesse https://www.fdacs.gov/Agriculture-Industry/Pests-and-Diseases/Plant-Pests-and-Diseases/Invasive-MollusksIndustry/Pests-and-Diseases/Plant-Pests-and-Diseases/Invasive-Mollusks, ligue para 1-888-397-1517 ou envie fotos por e-mail para DPIhelpline@FDACS.gov.
As propriedades onde o caracol indiano são encontrados devem reter os pedidos de compra e venda e realizar o período de quarentena por pelo menos 30 dias, assinar um acordo de conformidade e seguir o protocolo de tratamento com metaldeído (> 3,25%), seguindo as recomendações da FDACS. Para obter mais informações, acesse o documento atual de alerta de pragas da FDACS: https://www.fdacs.gov/content/download/93400/file/horntail-snail-pest-alert.pdf. Os moluscicidas registrados na Flórida, contendo metaldeído (>3,25%) e recomendados para uso em viveiros de mudas e plantas ornamentais podem ser encontrados na Tabela 2. Nota: Não toque nos caracóis com as mãos desprotegidas. Aconselha-se o uso de luvas ao manuseá-los.
Referências
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Bergey, E. A., L. L. Figueroa, C. M. Mather, R. J. Martin, E. J. Ray, J. T. Kurien, D. R. Westrop, and P. Suriyawong. 2014. “Trading in Snails: Plant Nurseries as Transport Hubs for Non-Native Species.” Biological Invasions 16:1441–1451. https://doi.org/10.1007/s10530-013-0581-1
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Cowie, R. H., R. T. Dillon, D. G. Robinson, and J. W. Smith. 2009. “Alien Non-Marine Snails and Slugs of Priority Quar- antine Importance in the United States: A Preliminary Risk Assessment.” American Malacological Bulletin 27:113–132. https://doi.org/10.4003/006.027.0210
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Talamas, E. J. 2020. Pest Alert: Horntail Snail, Macrochlamys indica Benson.
Tabela 1. Na India, em condições de campo, o caracol indiano (Macrochlamys indica Benson) varia em relação ao seu tamanho e reprodução (Raut and Ghose 1984).
Tabela 2. Moluscicidas registrados na Flórida para uso em viveiros de mudas e plantas ornamentais. Os produtos contêm mais de 3,25% de metaldeído, porcentagem mínima recomendada pelo FDACS para erradicação do caracol indiano (Macrochlamys indica Benson).